segunda-feira, 1 de março de 2010

Uno.



Sopro aveludado em nuca de pedra púrpura.

Enterro a mão dentro do peito em busca de um tom bordeaux mas a única coisa que encontro são pequenas pedras de gelo rosa-velho...

Como se gotas de vida tivessem agora alterado o seu estado...

Chora ao som de um lamento alheio, chora-o como sendo o seu, abraça o peito e roda as ancas como se seduzisse um par na dança... Dança só... deixa que as sua mãos inventem companhia... escorrem pela face, ombros, braços, barriga, ancas, nádegas, coxas, desliza até aos pés... suavemente desliza até ao chão, rebola sobre si mesma, sem calor humano apenas o seu suor contra o chão frio. Rasteja e perde-se por entre a confusão dos sentidos. Sente toda a pele elevar-se numa onda eléctrica desde os pés ao pescoço... brinca com a sua mão fria alimentando o estímulo... Observa o corpo reagir em arrepio, rebola pelo chão e vê ao longe a marca do seu corpo nele... como se fosse de outro não seu.

Qual terá sido a transformação...

Pára a música, apoia uma mão no chão e levanta-se, observa-se no reflexo do vidro da janela, não se reconhece por momentos no calor que vem de dentro.
Vira costas à imagem e segue em passo flutuante até ao banho.

Veludos agrestes presos em reticências...

4 comentários:

Anônimo disse...

a diferença está em que ele finge que não reconhece o calor que vem de dentro. Daí, Jace Beleren...


K
Jace

Anônimo disse...

Satisfizeste a tua curiosidade???

lampâda mervelha disse...

"Veludos agrestes presos em reticências..."

Beleza hesitante, de solidão tingida nos olhos, abraçando os pequenos vazios do outro lado, de quem não está.

lampâda mervelha disse...

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