quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

wollen


Guardei-te debaixo da almofada.
Sem som. Preto e Branco. Filme.

slide esquecido algures.

Passaste por mim entretanto, mas não vi, ou não quis.

Hoje não deixaste que não te visse tocaste-me enquanto passava.

suspiro por entre o sangue quente que percorre o corpo...

escadas. quarto. porta. canto.

encostas-me no canto do quarto escuro, encurralada.
ajoelhas-te pousando a mão no pé nu de sapato perdido algures no degrau,
sobes em compasso reticente de quem não aceita deixar o momento morrer.
beijas-me o joelho e sobes...

mão, peito, ombro pescoço em sopro de sangue quente
boca
brincamos de lábios abertos enquanto as mãos exploram espaços outros.

subo em compasso de tic tac a tua espinha, enterro a mão no cabelo
suspiro no ouvido
beijos, unhas, carne, som, sabor...

ficamos colados em êxtase prolongado. sem olhar. sem falar. apenas colados em slide preto e branco de memória perdida na gaveta cósmica de um tempo em ampulheta suspirada.


imagem retirada do google

domingo, 17 de janeiro de 2010

Corpo Gémeo



é um choro que grita fora de tom em som agudo que rompe escalas
estrela esverdeada, contornada em tom de azul
como se todas as luzes estivessem acesas num quarto repleto de cegueira
como se as estrelas no céu não existissem

como se nada mais além de água vivesse no mar.

como se os degraus fossem invertidos
como se o voo fosse abaixo da terra
como se os passos fossem invisíveis
como se o toque fosse sem sentido
como se o coração não vivesse

é fogo amarrado em cinzas acumuladas
vermelho mofo
som mudo por entre as veias que se amarrotam.

[arfar]

vem soprar-me o voo por entre a escuridão
saltar do penhasco de olhos fechados e sorriso aberto
deixar-me ir na corrente sem medo do silêncio


[arfar]


puxa-me e leva-me a dançar sem sequer sairmos do mesmo sitio
faz-me dançar por entre o toque


[Pausa]


deslizas a mão do cabelo até à curva do pescoço
sinto-te como pedra de gelo que arrepia a alma
beijo sem ar
rasga-me o pensamento
acorda-me
acorda tudo aquilo que ainda é teu...

Não deixes que o sol nasça
quero ser por de sol eterno em ti
amanhecer ambíguo de noites tardias e suadas
de sorrisos partilhados em cigarros silenciosos de cama desfeita

[Arfar]


Deixa-me voar no teu peito...
como se o tempo não fosse
passado ou futuro inexistentes
presente apenas no momento em que explodem arco-íris em olhar demasiado presente na ausência.

Deixa-me marcar-te o corpo para que, mesmo no fim, não acabe.

[Silêncio]

Deixa-me não seguir... Usa o meu corpo e cala-me a mente...

[Silêncio]

Só hoje...
Deixa-me fazer de ti o meu casulo e das minhas asas o aconchego...
Em ti, só em ti...

[hiato]

foto retirada do google

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Comigo


Tirei do bolso a folha que havia um dia rasgado do teu caderno.

Desdobrei todos os quadradinhos onde te tinha colocado, um por um.

Não te vi nas palavras, nas linhas, nem entre elas. Não estavas.

Talvez tenhas voado com as asas que te colei na espinha. Talvez tenhas descoberto algo novo onde pousar os teus espaços.

Procurei um ponto de referência na ausência. Nada. Ninguém. Nenhum.

Sentei-me.
Horizonte sem cor.

Há uma brisa morna que passa por entre os cabelos que se colam nas costas desenhando curvas desmanchadas. Manchas de cor por entre o preto e branco que gravo na memória.

Espaços incertos. Indesejados. Contudo agradáveis.

Sem plano, sem espera. Fica à mercê de algo.

Pu-la sozinha. Por entre brechas de sons que não guarda no seu livro.

Porque sim, porque não, porque não sabe de facto... ou não sabe apenas o facto, um... nenhum.

Há dedos sem dono que brincam com desenhos alheios e tiram medidas incertas no vento.

Tempo de Nada. Ninguém.

Guardei-te assim em folha branca, que escolhi não dobrar, amarrotar apenas.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pausa-me


raios no cabelo.
silêncio na chávena.
palavras no olhar.

Hoje vi uma libelinha, eu sei que não foi a primeira vez que isso aconteceu mas...

O sol adorna a pele pálida como agulha que fura tecido... ponto a ponto.

O cabelo voa ligeiramente dançando com o escasso vento.

Ele rega o jardim.
Ela vende.
Ele martela os sapatos.
Ela passeia as crianças.
Ele guarda.
Ela limpa.

Estão todos ocupados enquanto um lagarto azul e verde se tenta esconder por entre as sombras que escapam ao sol...

Amarelo, azul em pegadas suadas...

Vim ver-te na ausência da tua presença, vim ouvir-te em silêncio, olhar-te em conversa.

era gigante...