terça-feira, 16 de outubro de 2007

A casa ao lado...


A casa ao lado tem uma janela de frente para a minha. Não quero mas sou tentada a espreitar. Tentação... A casa ao lado tem tecidos aveludados que a minha não tem, cores cheiros e sabores que a minha não almeja, sons que não consigo escutar, toques que nem me atrevo a imaginar... Comprei tecidos negros para tapar essa janela que dá para a casa ao lado, substituindo os tecidos brancos que antes tinha. Passei dias a olhar sem espreitar, o negro como barreira aliviava-me a dor da tentação que a casa ao lado causava, mas passava horas a indagar sobre o que lá se passava e era ainda pior... Decidi retirar os tecidos negros e nem os brancos coloquei, deixei que a minha janela ficasse nua para que a casa ao lado a podesse ver através da janela de frente para a minha. Assim o fez, vi como riu das minhas paredes por pintar, dos quadros e das fotografias por pendurar, dos sabores por degustar, dos toques por efectuar... O riso doeu e por isso coloquei de novo os tecidos brancos na janela.

Apercebi-me então que em dias de vento a casa ao lado espreitava a minha, bem no canto da janela de frente para a minha, na esperança que o vento afastasse os tecidos e deixasse assim ver algo, vi nela a curiosidade que antes fora a minha tentação. Não consegui perceber porque uma casa assim se interessava pela minha...



Hoje entendo... a saudade de um início, de um caminho, de uma história que a minha casa agora começa e que a casa ao lado começa a "finalizar"...



E o espaço entre ambas... esse espaço entre as janelas de ambas as casas? Poderá ser ignorado?


...

sábado, 13 de outubro de 2007

Olhos bonitos


Olhos bonitos.
Olhos bonitos são olhos azuis.
Olhos bonitos são olhos azuis de cenoura.
Olhos bonitos são olhos azuis de cenoura com a voz da minha avó como fundo.
Olhos bonitos são olhos azuis de cenoura com a voz da minha avó como fundo e um sorriso de criança crente.
Olhos bonitos são olhos azuis de cenoura com a voz da minha avó como fundo e um sorriso de criança crente que ainda acredita em contos de fadas.
Os meus olhos são castanhos... e eu gosto de cenoura...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A caixa


A caixa é apenas uma caixa, uma caixa vazia repleta de histórias. Como se guardam histórias numa caixa? É uma boa pergunta, não sei é uma resposta sincera, a verdade é que se guardam.

Hoje fui buscar essa caixa vazia que tão cheia está... abri a tampa, fechei os olhos e lá saiu uma história... a tua, que se cruza com a minha e que por isso mesmo está guardada na minha caixa. Uma história com sorrisos que começam incertos, sinceros, hesitantes e que com o tempo se tornam leves e cúmplices... Olhares que inicialmente procuram algo incerto que apenas tem como certeza o destino que o recebe, destino esse a quem hoje se associa a palavra cumplicidade... Momentos que se confundem por tempos infindáveis que se partilham com alguém... Partilhei já mais contigo que com qualquer outra pessoa com que me cruzei até hoje e foste tu por vezes a criadora desses momentos tão especiais.

Hoje és tu a história que enche esta caixa vazia, a pessoa mais importante que alguma vez cruzou o meu caminho, não sei se estou a exagerar mas é o que sinto neste momento. Sem dúvida alguma és tu quem ocupa o lugar vazio da história da amizade...

Para a Malmequer