segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Porque andas á chuva?



Bate a porta nas suas costas. Caminha serena para a casa de banho deixando atrás de si um rasto de pingos...ping...ping...ping. Fecha a porta e escorrega por ela abaixo. Um suspiro e atrás dele o olhar que se perde...
- Vamos sair para dançar?
* Dançar? Sabes que não sei dançar!!
- Sei que quero dançar contigo.
* Já te disse que não sei dançar!
- És mesmo parva, não percebes que é apenas um pretexto para te poder agarrar?
* Se assim é foi muito mal escolhido! Já te disse que não sei dançar.
- Posso apenas agarrar-te então?
O início de algo, tão fácil... parece uma brisa constante que passa sem magoar ou perturbar. Gostava tanto de ti quando me fazias rir...
- Miúda vamos tomar um café?
* Não sei se me apetece.
- Anda lá, vamos ver o pôr do sol...através da cúpula do Colombo...
* Que engraçados estamos hoje! Obrigado, prefiro ficar em casa!
- A fazer de baby-sitter dos cães e dos gatos?
* Antes isso que fazer de tua baby-sitter!!!
- Daqui a 10 minutos estou aí com um filme, hoje ajudo-te com as "crianças".
Gostava especialmente quando sabias caminhar para mim sem que eu tivesse que te dizer o caminho... gostava das surpresas, como uma serenata que me dava problemas com os vizinhos... um pequeno almoço na cama... uma visita inesperada no chuveiro... um sussurro no ouvido... uma noite sem fazer nada... Gostava de ti sim.
Hoje lembro-me de como te conheci, estavas no café a ler um jornal e viste-me passar, sorriste mas eu nem te vi... Correste atrás de mim, pegaste-me na mão e perguntas-te:
- Porque andas á chuva?
* Porque preciso.
Depois disso veio a troca de números, a cumplicidade, a paixão o carinho... e sim, podería atrever-me a dizer o amor, aquele que nos juntou por 3 anos... Durante todo esse tempo sempre me viste sair para andar á chuva, perguntavas porquê com o tempo deixei de te responder e tu de me perguntar...
-Miúda preciso falar contigo, bebemos café amanhã?
* Porque não vens cá a casa?
- Não... ah... é urgente, amanhã no café ao lado do teu prédio, ás 11.
Soube-o logo... se ao menos podesses ter esperado pelo que eu ia dizer...
- Não consigo mais estar contigo!
* Porquê?
- Porque não falas comigo, não me deixas saber o que está aí, dentro de ti! Nunca sequer te vi chorar, em 3 anos, NUNCA!
* Já reparaste que hoje está a chover?
- Já! Mas isso agora não é importante, acabou. Amanhã vou embora por uns tempos, preciso espairecer, nao me procures, pelo menos por enquanto.
* Tudo bem.
- Nem assim? És uma insensível!!!
Saí dali o mais rápido possível corri para a chuva, precisava dela sim, mais que nunca...
O olhar encontra-se de novo... tenho dentro de mim aquela necessidade de te dizer o que está preso cá dentro, aquilo que te ia dizer se não me tivesses atacado... Pego no telemóvel e escrevo aquilo que não me permito a mim mesma dizer:
" Porque assim ninguém me vê chorar..."

domingo, 9 de setembro de 2007

terra do sempre



Existe na terra do sempre um cantinho onde o sol nunca se põe, onde ele nunca nasce também… está sempre à espreita qual mistério existencial. Lá atrás das árvores esconde-se um mundo onde o sol brilha… onde quem está do lado de cá nunca poderá ir.

A Chuva vive do lado de cá. Já não se lembra quantos anos tem, nem mesmo quando nasceu, a idade foi algo que se perdeu com o tempo. Ela gosta de brincar em cima do lago, sempre que lhe apetece bate os seus pés em cima dele sem deixar que ele a apanhe… o seu passatempo preferido é mesmo provocá-lo para depois fugir para junto das árvores, apenas porque sabe que lá o lago não consegue chegar.

O Lago também vive do lado de cá, sabe que é velhinho, o resto nem se atreve a dizer. Passa os dias a olhar para o céu, um céu onde o sol não brilha mas onde também não é noite. Perde horas a pensar como seria se pudesse ver o sol ou a lua… horas que são interrompidas pelas criancices da Chuva que nem com a idade perde o seu jeito de menina.

As Árvores são as únicas que conhecem o lado de lá, mas não falam, por muito que a Chuva ou o Lago perguntem o que existe “lá” elas passam os dias a limpar as suas folhas, não fazem mais que isso…

A Chuva acha que do lado de lá está um sítio encantado… onde príncipes e princesas dançam ao som de violinos e são iluminados pelo sol. Sempre que dança em cima do lago imagina-se com um vestido de princesa, a rodopiar pela mão do seu príncipe…

O Lago acha que do lado de lá está a lua e o mar, perde horas a imaginar as conversas que ambos têm e gostaria de um dia poder fazer parte de uma delas… apenas de uma…

Do lado de lá está o sol e todo um outro mundo, do lado de cá a Chuva, o Lago, as Árvores, o sol que nunca nasce nem se põe (apenas existe) e acima de tudo os sonhos…