segunda-feira, 16 de julho de 2007

São gostos....


São gostos. Sempre que a língua se remexe em contacto com o que lhe ofereço. “peach, i can eat a peach for hours” , i do can. Just not the same way mister Nicolas Cage does in that movie… peach, pêssego poderia ser, com a sua pele de veludo e o seu corpo rijo que apetece trincar… poderia mas não é. Poderia ser um morango, com a sua cor de sangue e os seus grãos, não de areia mas de sabor…trincá-los-ia de bom grado e sugaria o sumo que me escorregou pelas mãos. Poderia ter sido um limão, pô-lo-ia na boca para sentir o seu azedo reflectido nos meus olhos que se cerram. Poderia mas também não foi. Poderia ser manga… daquelas que já não se trincam, chupam-se até ao caroço e deixam saudade. Poderia mas também não é. Poderia ser maçã, aquela que se trinca após o almoço para amansar uma refeição pesada, mas também não é. Poderia ser uma nêspera ainda amarga por não estar suficientemente madura, mas parece-me pequena demais, não me apetece logo não o é. Poderia ser tanto… e é apenas uma ameixa… uma ameixa e o seu gosto a cereja na minha língua…

domingo, 15 de julho de 2007

Madalena e Carlos


Hoje vou falar deles.

Madalena, mulher feita com olhar de criança, cabelos negros e desajeitados, boca de ameixa, sorriso de maçã, pele de farinha, mãos de harpa, voz de mel.


Carlos, homem quase por construir, olhar perdido, cabelos castanhos e ordenados, boca de morango, sorriso inexistente, pele de avelã, mãos de terra, voz de cigarros engolidos.


Madalena estuda, quer ser professora para ensinar os meninos. Gosta de cantar ás escondidas do pai para que este não a chame de tola. Lê incessantemente como se as palavras fossem o único alimento que necessita. Todas as manhãs passeia á beira do lago e chora sem saber porquê.


Carlos trabalha, já desde os 12 anos, não tem sonhos, aspira apenas encontrar alguém que cozinhe para ele e seja um abrigo quando chega do trabalho. Não sabe ler mas gosta de ver as fotografias que acompanham as letras do jornal que todos os dias folheia no café do Senhor João. Todas as noites vai dar um passeio á beira lago olhando a lua, chora sem saber porquê.


Hoje a manhã estava agitada e Madalena não pôde ir dar o seu passeio ao lago. Optou por refugiar o seu olhar num livro, um qualquer romance que a faz ter um brilho especial nos olhos. Canta enquanto cozinha o almoço.


A agitação do dia não deixou que Carlos pudesse trabalhar, foi para o café do Senhor João e passou o dia inteiro a olhar as imagens dos jornais perdidos entre as mesas e acompanhados por cigarros. Pela primeira vez quis saber o que eram aquelas letras e os seus olhos brilharam. Assobiou uma música qualquer e foi para casa. Não conseguiu ir ao lago, a noite estava demasiado agitada.

Um qualquer feriado que o calendário marcou. Madalena adormeceu e não foi ao lago de manhã. Carlos dormiu até mais tarde e não foi ao café do Senhor João. Depois do almoço dirigiram-se os dois para o lago. Madalena a pé, Carlos de bicicleta a pedal.

O sol dourava o chão e a água estanca do lago. Apenas uma sombra ocupava aquele ouro. Carlos chegou primeiro, sentou-se ao lado dessa sombra sem deixar que ela o pisasse, olhou a água. Madalena chegou e viu que alguém ocupava o lugar onde todas as manhãs se sentava. Aproximou-se e disse Boa tarde, nervosamente Carlos respondeu da mesma forma. Madalena sentou-se ao seu lado. Abriu o livro que havia levado consigo e começou a ler em silêncio. Passado alguns minutos ouve-se a voz de Carlos que irrompe aquele silêncio de ouro Esse livro não tem imagens, ao que Madalena responde tem sim, mas são imagens desenhadas por palavras. Carlos olha o chão e Madalena fita-o, nunca leste um livro? Carlos diz que não e imediatamente ela começa a ler em voz alta a descrição de um pôr de sol num qualquer sítio, num qualquer tempo, quando parou de ler olhou para Carlos e sem precisar falar percebeu que ele tinha visto aquele pôr de sol. Olharam-se nos olhos e pela primeira vez sorriram naquele cenário embalado por luz e paz, acompanhados por imagens e palavras em conjunto.




sábado, 14 de julho de 2007

Andam por aí...


Andam por aí palavras soltas no vento. Batem nos campos e curvam as ervas que apenas querem existir. Andam por aí, a espalhar confusões, a curvar opiniões e desejos.

Andam por aí palavras soltas no tempo, bateram ontem na minha face e estalam hoje no meu ouvido… sopro surdo que ensurdece de tão gritante que está. Andam por aí ambiguamente. Diz mais baixo, não grites tanto por favor, gosto dos sussurros, são mais fáceis de ouvir.

Andam por aí palavras soltas que me desfazem os caracóis, querem irritar-me mas eu não ouço o que dizem, sorrio apenas porque não entendem.

Andam por aí palavras soltas no vento que curvam as árvores e não as raízes. Fazem-nas dançar mas não recuar.

Andam por aí palavras soltas no vento, batem, cantam, dançam, desordenam, são, passam e seguem enquanto eu permaneço com o silêncio do seu som.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Estátua de Carne


Estátua de carne
com coração de pedra
tem sentidos mas não sente
tem olhos mas não vê
tem lágrimas mas não chora
tem pés mas não anda
tem boca mas não fala...
Estátua de carne
com coração de pedra
tem mãos mas não toca
tem braços mas não abraça
tem cérebro mas não pensa...
Estátua de carne
arquitectada por artista incerto
foi criação mal acabada
tem tudo mas não tem nada
seu coração é apenas pedra...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

uma dança


A música soa de fundo, faz gingar a anca. Danço descalça no chão sujo que me escurece os pés e me faz deixar marcas quando passo para o chão limpo, deixo-me rodar ao sabor do som, rodopio, rodopio, rodopio. Abraço o vento, a única companhia que hoje permito… rodo e abraço o mundo que já tocou este vento. Os pés marcam a dança que se perde. De olhos fechados sigo o som da ginga inocente. Vida leve e feliz a destes pés que dançam. Dançam e esquecem as pegadas que antes marcaram, apenas esta dança importa. Não há vida além disto, danço e sou livre, sem memória e ri-o, como ri-o. Momentos de felicidade que nos invadem, para quê pensar no resto, estou feliz agora, não quero importar-me com o facto de que ela eventualmente irá acabar, quero apenas dançar. A anca continua a dançar, a música que se perde no espaço embala o sorriso e as lágrimas que caem da felicidade que tal simplicidade permite. Ninguém me conhece além do vento, das lágrimas e desta música que me faz gingar, sinto o cabelo acariciar-me a pele. Como sabe bem ser refúgio de mim mesma nesta ginga sem fim, apenas eu e o cenário onde danço. A saia roda ao sabor da ginga, abro os braços ao vento e danço. Estes pés descalços e sujos que marcam um momento. Não quero que acabe, quero dançar assim para sempre, neste momento… rodopio com a saia e o cabelo que me acompanham… mas a música chega ao fim e a anca pára com ela. O vento continua a soprar o cabelo e a saia, como que a incentivar-me a não parar, mas sem música os olhos abrem e o sorriso afrouxa, a lágrima cai. Olho o chão sujo dos pés que aqui dançaram, o sorriso volta, posso não voltar a dançar hoje, mas a música e esta dança poderei sempre repetir… um dia… num outro cenário…

quarta-feira, 11 de julho de 2007

sons que se misturam com palavras (texto)


São sons que se misturam com palavras. I melt with you, yes always.
Derreto todos os dias um pouco, com o mel dos sons que embalam o ouvido e as ideias reflectidas em palavras. Derreto com os olhares que se perdem sem destino, ou mesmo aqueles que faíscam e provocam sorrisos nervosos, derreto com esses mesmos sorrisos sinceros. Sorrisos sábios, espelho de um espírito sábio. Sorrisos malandros de criança que se quer obrigar a crescer, sorrisos loucos de crescidos que não deixam de ser crianças. E derreto com palavras... Essas palavras que embalam sorrisos, ideias, olhares e me fazem derreter contigo. Tu que dás tudo isto. Tu que te desdobras em olhares múltiplos, sorrisos diversos, palavras perdidas. Tu que és todos e nenhum, tu que existes em todos os diferentes que comigo se cuzam, me preenchem e me derretem.
Sim derreto contigo, essência que brinda alguns e me faz feliz. tu música, palavra, mundo.
Obrigado por me fazerem derreter!

sons que se misturam com palavras

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Janela


Paredes são apenas quatro, assim como os quatro lados que desenham uma janela numa dessas paredes, pode ser uma qualquer não é importante. Por baixo dessa janela uma cómoda antiga, uma qualquer não interessa qual o modelo que lhe incute simulado estilo, em cima o típico napron branco. Aproximo-me da janela e repouso os meus ombros nessa mesma cómoda que por sua vez respousa no chão que se encerra nessas quatro paredes. Dirijo o meu olhar para a janela, para além do vidro que me separa a mim do resto.
Um lago tão azul que chega até a ser roxo, não tem peixes nem nenúfares apenas alguém que o olha. Não, não sou eu, apenas alguém além de mim. Tem cabelo amarelo a atirar para um branco amarelado e umas botas pretas de borracha que não combinam com o seu ar de princesa bem servida. O vento revolta-lhe o cabelo não deixando que lhe veja a face, fica imóvel e mexo os meus olhos procurando algo mais... esquerda, direita? Esquerda, que seja, assim me parece bem. Uma árvore, um sobreiro, ou pelo menos aquilo que para mim é um sobreiro, encostado a ele repousa um cão que de tão manso parecer chega a apetecer-me chamar-lhe gato, deve ter dono porque lhe entrevejo uma coleira no pescoço, adormecido cola a cabeça ao rabo. Mais uma vez o vento revolta-lhe o pêlo e fá-lo encaracolar-se sobre si mesmo, já me cansou de tanto não se mexer.
Vamos para a direita então, esgotam-se as hipóteses (ou não) mas que seja. À direita dunas, de um deserto, de um vale ou de um monte, todos as têm. Nelas passeia um tractor que de tão velho já parece apenas fumo, fumo que se confunde com o de outro alguém que se esqueceu de um cigarro no canto da boca enquanto cumpre a difícil tarefa que é guiar um tractor percorrendo dunas.
Páro e olho para o céu, de tão branco que está nem parece algodão, é-o de facto.
Olho de novo para além da janela. A menina com as botas aventura-se no lago, depois de muito procurar sai de lá com um osso. Do lado esquerdo o cão acorda quase como se sentisse o cheiro do osso, a trela persegue-o e a menina prende-o a ela. À direita nas dunas ouve-se um assobio e o nome "filha" e vejo afinal não um tractor mas um qualquer transporte de três lugares (o número perfeito segundo alguns ).
Os meus olhos recuam, estão agora para cá do vidro que não é espelho, é não mais que uma janela que mostra um teatro alheio. Espreguiço-me e olho para o chão, é aí que se encontram os meus pés, nesse chão encerrado entre quatro paredes.

sábado, 7 de julho de 2007

ser.....


ser cigarro que nasce para desaparecer
ser o ser que nasce apenas para morrer
ser alguém, ser ninguém
ser ou não ser...
ser tua, ser nua, ser lua!!
juntar palavras que parecem não conjugar...
juntar água a azeite
e açucar ao mar...
pôr um peixe a voar
pôr um gato a nadar
roubar apenas uma estrela
guiar-me por ela!
ser borracha para o tempo poder apagar
ser criança, para apenas ter de brincar
ser fumo....
só fumo
nada mais que fumo
para desaparecer.......
para no tempo e no espaço me perder
apenas deixar de ser....

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Proust, uma madalena, um chá e o restante...




Verde por fora, branca por dentro, mero recipiente.
Um chá bem quente, sopro-o á cinco minutos e não alcança a temperatura certa. Fecho os olhos enquanto o sópro e o seu bafo quente faz-me viajar para outro lado. Uma frase desenha-se por si só na minha mente, Proust, uma madalena, um chá e o restante. Proust e as suas memórias acompanhadas por um chá e uma madalena, eu com um chá e uma caneta que rebola em busca de memórias. Sopro mais uma vez para que este calor me aqueça as lembranças. Mexo a água tingida e vejo-a rodopiar qual furacão abalroado, a colher tilinta ao bater na caneca... Gostava de me lembrar da primeira música que ouvi, deve ter alum significado especial, deve por certo ter sido importante pois ainda hoje a música tem vida activa em mim.
Fecho os olhos e tento viajar, recuar até ao início, mas o tempo perde-se sem resposta... Lembro-me da última vez que cantei, muito próxima e por isso tão presente... arrefeceu um pouco, sacio-me com um gole...
Volto a fechar os olhos e a tentar recuar, de repente uma imagem se desenha na minha mente, eu pequenina, de tal forma ainda criança que pareço uma formiguinha de caracóis com a mania que já é gente. Brinca enquanto outros tentam comer, cheia de vida de tão menina que é, pedem-lhe que sossegue mas sabia lá ela o que era sossegar. Pega numa colher
faz dela um microfone, ou "bicofone" como me lembram agora os "grandes" que era o que lhe chamava, qual estrela empoleira-se numa cadeira que nessa altura parecia um lanço de escadas tão difícil de subir. Era uma estrela num espectáculo importante (mais um gole de chá), pega no seu "bicofone" e começa a cantar. Lembro-me, lembro-me sim, dá-me agora vontade de rir por me ver lá, ver como achava que já era gente, podia não ser gente mas lá que tinha graça tinha...
O chá acabou já frio enquanto as memórias ficaram quentes...
Ah! A música qual era? Marco Paulo "Ò Joana", de certo não foi a primeira que ouvi, mas é a primeira de que me lembro...

The begining....

então cá estamos, ou melhor cá estou... sempre tive vontade de fazer um blogg mas vá-se lá saber porquê ainda não me tinha metido nisto a sério...espero não cometer muitas atrocidades... será um espaço para divagações, constatações... o casulo de borboleta da boneca de porcelana ;) lets start it then :D