segunda-feira, 9 de julho de 2007

Janela


Paredes são apenas quatro, assim como os quatro lados que desenham uma janela numa dessas paredes, pode ser uma qualquer não é importante. Por baixo dessa janela uma cómoda antiga, uma qualquer não interessa qual o modelo que lhe incute simulado estilo, em cima o típico napron branco. Aproximo-me da janela e repouso os meus ombros nessa mesma cómoda que por sua vez respousa no chão que se encerra nessas quatro paredes. Dirijo o meu olhar para a janela, para além do vidro que me separa a mim do resto.
Um lago tão azul que chega até a ser roxo, não tem peixes nem nenúfares apenas alguém que o olha. Não, não sou eu, apenas alguém além de mim. Tem cabelo amarelo a atirar para um branco amarelado e umas botas pretas de borracha que não combinam com o seu ar de princesa bem servida. O vento revolta-lhe o cabelo não deixando que lhe veja a face, fica imóvel e mexo os meus olhos procurando algo mais... esquerda, direita? Esquerda, que seja, assim me parece bem. Uma árvore, um sobreiro, ou pelo menos aquilo que para mim é um sobreiro, encostado a ele repousa um cão que de tão manso parecer chega a apetecer-me chamar-lhe gato, deve ter dono porque lhe entrevejo uma coleira no pescoço, adormecido cola a cabeça ao rabo. Mais uma vez o vento revolta-lhe o pêlo e fá-lo encaracolar-se sobre si mesmo, já me cansou de tanto não se mexer.
Vamos para a direita então, esgotam-se as hipóteses (ou não) mas que seja. À direita dunas, de um deserto, de um vale ou de um monte, todos as têm. Nelas passeia um tractor que de tão velho já parece apenas fumo, fumo que se confunde com o de outro alguém que se esqueceu de um cigarro no canto da boca enquanto cumpre a difícil tarefa que é guiar um tractor percorrendo dunas.
Páro e olho para o céu, de tão branco que está nem parece algodão, é-o de facto.
Olho de novo para além da janela. A menina com as botas aventura-se no lago, depois de muito procurar sai de lá com um osso. Do lado esquerdo o cão acorda quase como se sentisse o cheiro do osso, a trela persegue-o e a menina prende-o a ela. À direita nas dunas ouve-se um assobio e o nome "filha" e vejo afinal não um tractor mas um qualquer transporte de três lugares (o número perfeito segundo alguns ).
Os meus olhos recuam, estão agora para cá do vidro que não é espelho, é não mais que uma janela que mostra um teatro alheio. Espreguiço-me e olho para o chão, é aí que se encontram os meus pés, nesse chão encerrado entre quatro paredes.

Um comentário:

Bruna Pereira Ferreira disse...

Aparece no curso...
Sinto a tua falta na cadeira direita. :(

Beijinho grande*