
sábado, 10 de dezembro de 2011
Inanis

terça-feira, 27 de setembro de 2011
Repetição

A noite fria distendeu-se juntamente com os lençóis até ao fundo da cama, com o sol o calor disse bom dia.
Sinto o meu suor húmido na almofada e o teu espaço frio na cama.
Sozinha. Acordei com o meu sorriso abandonado.
Não tenho voz. Embrulhou-se algures nos vincos dos lençóis...
Tenho fome de carinho. Como uma sandes de camadas. Uma de abraços, outra de beijos, outra de vozes, outra de palavras, outra de nadas. Os nadas vão sendo nas entrelinhas os que mais sabor têm.
Levanto-me, embrulho-me em qualquer coisa que encontro pelo caminho... Há quem acorde de olhos adormecidos, eu acordo com os pés adormecidos. Arrasto-os comigo pelo corredor.
Casa vazia.
Estendo o meu tronco sobre o tampo semi espelhado da mesa. Vejo a minha respiração bater na superfície e evaporar.
Vazio.
Os vazios passeiam por entre espaços preenchidos em nós.
Como?
É como ter um frasco com pedras até ao topo, olhamos e dizemos que está cheio, mas se lhe deitarmos areia ainda há espaços por onde deslizar e se olharmos diremos que está cheio, mas podemos sempre verter água.... e ela irá deslizar por entre as pedras e ensopar a areia. Há sempre um espaço vazio, mesmo quando tudo nos parece cheio...
Não sei onde começo e acabo, sou quase como o lençol que se embrulha durante a noite. Embrulho-me pelo caminho, nos meus pensamentos, no que vejo, no que sinto... e no todo que se preenche permanece este vazio, miúdo dia sim agudo dia não.
Vou até à casa de banho, molho o rosto, como que na esperança de que o toque da água fresca e pura na pele me limpe o que suja por dentro. Os medos, as dúvidas, as desilusões, as reticências que vão ficando no longo livro que escrevemos. Não rasgaria, ou tão pouco omitiria folhas escritas até agora, mas algumas delas foram escritas a sangue... e mesmo quando já muitas páginas se lhes sobrepuseram, por vezes, esse sangue pinga ou borra, não desaparece, e nem mesmo essas apagaria.
Não esqueço o bom ou mau, mas confesso que lembro sempre o mau com mais força, o vermelho é mais vivo, salta das gavetas.
esqueço tudo o que não estimulam em mim. Seja em dor ou amor.
A falta de estímulo esvazia em mim a água que no frasco ensopa a areia.
Sou demasiado poética nas histórias que desenho sobre a minha cabeça, demasiado vaga nos saberes que escorregam dos meus lábios, demasiado severa no julgamento que lanço com o meu olhar, demasiado viva no corpo que entrego entre os lençóis.
Caberia num átomo, mas não me chega o mar.
Mas nada é repetido... ou igual... há sempre uma pequena diferença no acto de repetição. Ninguém percorre o mesmo caminho, ainda que o faça lado a lado.
"O tempo humano não anda em círculos, mas avança em linha recta. Por isso o homem não pode ser feliz: a felicidade é desejo de repetição."
Tenho saudades de acordar e ter já os teus olhos pousados em mim, dos corpos colados, dos lábios mordidos, das mãos entrelaçadas. Mas mais que saudades tenho sempre saudades de saber que ela existe do lado de lá do espelho. Uso-a como uma flor viva em cor e cheiro que se colhe para enfeitar o cabelo.
Acendo um cigarro. Mais um.
Companhia de tantas horas em vazio. Vazio em repleto. Esvai-se. Fumar é quase como escrever, uma onda de fumo que engolimos e nos percorre o corpo saindo porque temos que respirar... Porque estamos vivos e para estar vivos precisamos respirar. É como o último travo que antecipa um fim insatisfatório. Apetece-me sempre outro cigarro imediatamente após o acto de raspar a cinza no fundo do cinzeiro, mas como em tudo na vida às vezes cansa a insatisfação e a repetição nem sempre traz consigo a perfeição. Nada se repete em igualdade, são apenas reticências de corpo diferente. desigual. vazio...
Imagem retirada do Google
Excerto do livro Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Citação

“Eu queria oferecer-te o meu corpo para que o absorvesses no teu.”
Respiro para dentro em sinfonias de perdição.
Embrulhas-me no teu peito em suspiros de quase morte...
Sinto a tua respiração escorrer-me pelo ombro, pescoço, pequenas explosões de um desejo maior...
Ofereço-te o meu corpo para que sintas a minha alma. Sorvo-te em línguas que tocam os lábios quentes...
Quase morte em tangentes de sabores partilhados.
Gosto que me arrombes os sentidos, que me esmiúces e me prendas em cordas soltas. Sinto-te na nuca em pequenos toques que se dobram no ventre.
Gravo o teu cheiro no peito para que me arrepie a mente
Pergunto-me, a que te sabe a minha pele?
A tua? Colapsos corporais em estremeceres intermitentes... é esse o teu sabor.
Vibra-me o corpo em reminiscências. Se fechar os olhos consigo sentir-te, ainda, dentro de mim.
Sinto, sei, que passaria um dia inteiro em quase mortes arrastadas até à exaustão.
[Chegaríamos lá?]
“Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedir de pensar.”
[Pensar]
Penso no sabor que deixas em mim
[Calmantes]
Acalma-me o calor do teu corpo na minha face e a tua presença em mim...
[Simplificar]
O amor não simplifica... adensa-se e rasga-se em tudo o que de oferta absorves de mim, assim...
Imagem de Pollock
[Todas as citações neste texto são da autoria de Inês Pedrosa na sua obra Fazes-me Falta]
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Lief vir my

Prendi-te no corpo em desejo de sentidos... o teu respirar no meu pescoço...exactamente na dobra que se estende até ao ombro. Desejo que nele te pouses...que pouses em mim todo o peso que te acompanhou nesta fase...ou a leveza se for caso disso. Sinto a força dos teus braços prendendo-me pela cintura, em carinho. Os teus olhos que se debruçam sobre mim em amor... Tenho sempre medo de pronunciar esta palavra.É mágica... com o poder de nos elevar ou enterrar... Mas sinto-a em todos os meus poros quando te olho... mesmo quando me irritas ao ponto de te odiar é o amor quem me eleva a voz. Só discuto com quem realmente amo e foram poucas as pessoas com quem discuti até hoje...
Sinto-me uma miniatura sempre que me aninho em ti... não por ser pequena ou tu grande mas porque, no teu peito, sim o teu e apenas o teu, sinto que nada me pode tocar, não há bichos papões, dragões, lobos, maldades ou medos. Apenas eu tu e o compasso do teu coração. Sei-o de cor. Faz-me falta todas as noites que encosto a face à almofada... Fazes-me falta. Falta que se sobrepõe em tijolos que formam um forte no canto esquerdo do meu peito. Pesa-me tudo o que sei. Tudo e tanto do que entendi entretanto, do que vi, do que li, do que escolhi acreditar e do que escolhi esquecer... entretanto... de entre tudo.
Desculpa se calo tanto, mas estiveste sempre comigo escondido na segunda cova do lado esquerdo do meu sorriso. Mesmo quando não me ofereces as palavras que gostaria. Mesmo quando te esqueces que sou frágil...
Ouvi algures numa música; "Home is not a house but a feeling". Digo-o agora sem dúvidas aninhadas. Tu és a minha casa, quente e viva... Na ausência fundi todas as dúvidas, descompassos e alguns medos para desenhar uma chave... Espero que não tenhas trocado a fechadura na minha ausência...Sei que fui eu quem a quis, sei que fui eu quem a escolheu... Mas eu sou assim, imperfeita. Acordo irritada, não gosto que me observem porque me deixa nervosa, e quando estou nervosa rio... não partilho os meus medos porque acho que me tornam mais fraca, idealizo tudo demasiado, apanho boleia nas nuvens que passeiam pelo céu e viajo em encontros por silêncios que não sei dividir. Gosto de massa mais que qualquer outra coisa, roo as unhas, acho que tenho os olhos muito pequenos e que visto dois números acima daquilo que gostaria, sou maioritariamente confusa, vaga, distante e deambulante. Odeio ficar de alma nua (como agora).
Sou imperfeita. Preciso escangalhar as coisas para as entender, dilacerar... mas estou perto de terminar o meu puzzle...
Há frases que ditas na tinta de outros se tornam nossas...
"quantos restos de ti fazem parte de mim" - escreveu ela.
Sou tão tua [por entre eles] quanto se pode ser de alguém, e esse é o detalhe que mais me dói.
Deixo sempre que o ar me leve, muito ar, demasiado AR, eu sei, mas eu não sou perfeita. Still... I FLY
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Res non verba

Sozinha comigo, em mim, divago entre espaços vazios que pairam entre reticências.
Cada reticência é um conjunto de pontos finais que se coadunam esperando um resto.
A banda sonora não é minha, mas ecoa sob a minha voz, canto palavras que não escrevi mas sentidos que reconheço...
Caminho por entre apetites que me habitam e me consomem em nulidades de sabor...
Encho a banheira, espuma e bolhas saltitam por entre azulejos, quero água que me queime a voz, que me ferva o peito, que me consuma a mente. Calor que me ocupe e se propague pelos espaços vazios que pairam em mim...
Trago comigo o copo com néctar a veludo, que deixo a um canto enquanto mergulho na pequena nuvem aquecida...
Ouço frases soltas por entre refrões e nos entretantos dos sorrisos mudos deixo que as pontas dos dedos sintam o toque frio das torneiras [Arrepios]
Momentos egoístas que gasto comigo em silêncio.
"Come closer, come and stay with me now, help me to reconcile, come and stay a while(...) And I will find a house, because we love till the end..."
Mostro-te restos que não vês porque escolhes não ouvi-los. Tenho pesadelos no ouvido direito e sonhos que me escorregam pela nuca. Exorcismos que se cruzam em pequenos pestanejares que se espalham pela face.
Passeio os dedos pingados pela base do copo semi cheio com pequenas marcas que escorregam pelo interior... O vinho engrossa a paixão e brinda a saudade.
Escrevo pensamentos, sentimentos, verdades e mentiras em tiras de papiro conceptual, e rasgo-as logo de seguida... amasso e desarrumo tudo para que possa depois organizá-los devidamente... Brinco com cronologias e faço analogias de sentidos. Estico a razão e encolho o coração.
Sou complexa nesta simplicidade que me conheço... Vivo dias que são anos e horas que se mirram em segundos.
Apetece-me esticar até ti, como se estivesses na ponta oposta a mim, e sussurrar-te ao ouvido as pequenas doses de mim que se enrolam na tua memória. O cheiro, o sorriso, o sabor... E perder-me no silêncio da resposta.
Sou tão pequena neste momento que caber-te-ia facilmente na palma da mão... a mesma com que me tocas, a mesma com que te tocas, a mesma onde cravei um dia sonhos e desejos... a mesma que fechaste sem deixar que algo dela escorregasse.
Ergo o copo num último travo e deixo que a última gota me escorregue pelos lábios... um brinde.
Quando esmifras tudo o que vês, és feliz com o que conheces?
Quando drenas todo o teu sangue, és feliz com o que fica?
Quando esvais todo o desejo, és feliz com o que te resta?
Quando apagas toda a indecisão, és feliz com o que escolhes?
Sou feliz no vago espaço desta reticência abandonada ao silêncio do calor que se banha de veludo entre os espaços vazios, que hoje escolhi para mim, porque sim...
imagem retirada do google
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Poesiando

Há na poesia um mar de rosas sem cheiro a rosa.
Há na poesia imagens que ninguém mais, além de nós, consegue ver…
Cantos, becos, sussurros e suspiros requebrados que se escondem dentro de nós mas que gritam por sair … por ser mais.
Partilhamos estes pequenos nadas que tanto dizem de quem somos, ou vamos sendo, a quem recebe estas palavras que brincam escorregando da mente, travados pelos lábios e turbinados na ponta dos dedos. Um poeta não se sente poeta. Talvez tenha que reformular ou apenas não afirmar, não me sinto poeta, mas sinto poesia dentro de mim. Sinto-a na forma como recebo as sensações exteriores, na forma como vejo o dia a dia dos outros que se entre cruza no meu… como o nó de uma corda, que sendo uma só é não mais que uma conjugação de milhões de outros pequenos fios. Sinto-a na imagem da criança que caminha pela terra deserta e que quando é brindada pela chuva faz do seu corpo a tela e da lama a tinta…
Se escolhesse para mim uma metáfora, agora, seria a de que mais do que sangue é tinta de poesia que me corre pelas veias… gostaria de vos poder mostrar todas as frases que se conjugam em mim num dia… que vai sendo tarde e se estende em noite. Gostava. Mas não sou poeta, sou apenas alguém que gosta de poesia, esse resto de mim que vos deixo.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Cubo Mágico...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
assenza

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
leeg

Bate no peito secura
azul
esverdeada
Desdobram-se as mãos por entre pequenos espaços livres no vazio
uma porta que se abre no fundo de um corredor escuro
uma voz que chama, semi viva...
Não há passos.
Inércia.
Ela seguia.
casaco preto.
ténis gastos na sola.
atacadores a arrastarem pelo chão.
gorro que esconde um cabelo longo e negro, liso.
um lenço semi enrolado envolvendo o pescoço.
Ia...
a noite desenhara-se já em espaços negros pela rua
as sombras antes escondidas do sol, estendem-se agora sob fracas luzes ao longo da rua.
Algumas músicas saltitavam nos seus ouvidos.
Não estava triste mas sentia no seu peito uma tristeza recorrente...
Aquela que não se acoita num peito
Que não morre num sorriso
Que não é roubada por ninguém.
Aquela que a conhece desde sempre
que se esconde no canto da íris
no bater fraquejado do coração
no sinal que se adormeceu no seu rosto
Segue branca rumo ao escuro
sozinha
apenas com vozes nos ouvidos.
Vazia.
Não está vazia, mas vai sendo vazia em breves espaços que lhe arrepiam a pele ao tocar a brisa.
Olha um vago vazio sem dono que se estende pelo caminho.
Tocam sinos.
Passam carros.
Fortes luzes intermitentes.
Esqueceu o relógio.
matou o tempo em breves minutos.
Não há vontade neste espaço.
Mas segue.
Há um destino... ao qual escapa hoje... porque sim.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Do Vir

Sorrimos num espaço perdido
de mãos dadas no vazio
Soltamos palavras que não ouvimos porque o vento roubou...
ou talvez as tenhamos apenas esquecido
Será assim o tempo do nada
do amargo
do compulsivo
Prendo-me no teu pescoço
é o teu cheiro que me guia...
Engulo soluços, sorrisos, restos de mim
e vomito palavras que não respiram
que não voam
que se guardam por entre espaços vagos
Há caminhos
Há
Há destinos
Há
Há nadas.
Dou passos por entre quadrados sujos e gastos
e vejo pequenos desenhos que rastejam apagados
deixamos uma história para trás, sempre que seguimos em frente
e não consigo não ver a criança que corre atrás de quem dela se esquece...
Tornamo-nos algo
transformamos muito
guardamos nadas no espaço de uma vírgula
Suspiro.
Não há um fim.
Há um grito que se prende por entre o espaço que deixas vazio,abandonado.
[barulho]
repete comigo esse som tão estranho
[barulho]
estranho sempre as palavras repetidas, soam a nada
[barulho]
embrulho os braços no tronco inerte e gelado que esqueço em voos distantes...
[barulho]
sentes o eco que se estende no silêncio de um espaço que não é?
[barulho]
esqueci-me do que te ia dizer
talvez não fosse nada
talvez não tenha voz
talvez nem exista
[barulho]
deixo as velas arderem até ao fim
ou sopro para que se esqueçam prematuramente?
[barulho]
tinha uma capa azul... mas não o li
[barulho]
às vezes esqueço-me que não andamos, dançamos
[barulho]
às vezes deixo-te para trás
[barulho]
às vezes esqueço-me de seguir-te
[barulho]
afinal não é a elas que estranho... é a mim.
imagem, quadro de Maria Helena Vieira da Silva
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Janela de Ninguém

Abro a janela.
[Frio]
Há o frio que me invade a pele, apetece-me senti-la viva.
Ele abre a janela. Sala, suponho. Estendem-se pela parede fileiras de livros. Não são livros quaisquer, são perfeitamente simétricos, capa vermelha em pele… Vejo-o puxar um e sentar-se numa poltrona, suponho, da qual apenas vislumbro uma esquina de pano em floreado gasto e foleiro.
Ele lê.
O vento sopra-me no peito, enrola-me o cabelo no rosto.
[Vazia]
Hoje acordei vazia, centrifugou o peito tudo o que nele se excedia… Há um peso exacerbado na leveza do saber, que me dói.
[Chuva]
Pousou o livro, afastou a cortina esburacada e acendeu um cachimbo.
Gosto de rituais. Submerso em si não me vê, apenas olha. Do lado de cá toca-me o cheiro a tabaco… cereja e mofo. Olho-o, vendo, sem que se aperceba de mim.
Dar-lhe-ei 70 anos, porque sim. Alto e barrigudo. Cabelo desalinhado e barba amarela. Uma camisola gasta tapada por um roupão ainda mais gasto…
[Tempo]
Vi-o outrora noutro corpo, mais jovem e mais sábio, era bonito.
[Vozes]
Há crianças que descem a rua em algazarra inocente e irritante. Da janela ele olha-as e sorri. Tem um sorriso bonito ainda.
[Suspiro]
Há pedaços nossos que morrem com o tempo, entregues ao vazio de um espaço que não existe.
Caminho pela memória de mim… Vejo os nossos pés marcarem passos por entre a calçada desalinhada. Falamos, ouvimos, calamos, olhamos. Ela parou para nos ouvir também.
“Somos nós”
Seremos sempre tão diferentes?
Por vezes vejo-nos simples na nossa complexidade… Talvez estejamos apenas demasiado familiarizadas com aparentes complexidades alheias.
[Sorriso]
Posso ouvir-te um dia inteiro, sorrio sempre no entender-te de olhos fechados. Temos uma diferença tão igual que me faz cócegas na boca.
[Perfeito Azul]
Caminhava contigo mas parou-me a imagem. O muro era velho e degradado… mas alguém, por alguma razão viu nele um espaço perfeito.
Incompleto Perfeito
Perfeito Incompleto
Incompletamente Perfeito ou Perfeitamente Incompleto?
Era um pequeno rectângulo, uma porta para nada, por onde passa ninguém, número 42. Azul. Senti-me em casa ali, espaço de ninguém tão bem qualificado. Incompleto perfeito, nº42, porta azul. Podia ser a minha morada, podia sim.
[Tempo]
Deixei de vê-lo, mas sinto ainda o cheiro do cachimbo e ouço uma voz intermitente que se projecta de uma pequena caixinha que habita acima dos livros de capa vermelha…
[Silêncio]
Cala-me o peito o gelo que impera na pele. Se me caísse agora uma lágrima seria gelo e não calor…
[Pestanejar]
Levanta-se para fechar a janela. Num segundo sorriu-me quase em tom de reconhecimento…
Quem terá ele visto?
imagem retirada do google
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A limine

Era escura.
Uma luz ténue e trémula marcava umas mãos sem corpo que acariciavam as cordas de um violino negro...
Aninho-me no chão de pés e braços cruzados.
2 corpos semi visíveis por entre a escuridão.
Respiram-se em mãos que se cruzam em busca de pele... tocam as faces, os cabelos, abraçam-se em silêncio percorrendo caminhos antigos com as pontas dos dedos.
Tangos surdos... Olham-se em palavras que não dizem, mimam-se em acordes suaves.
Cerra-se a pouca luz presente e há apenas um perfil de 2 corpos ao fundo da sala...
Pára o violino.
Arrasto-me pelo chão em silêncio, dirigindo-me aos corpos... voyeur de mim mesma!
Rasgo a tela.
Afasto o espelho.
Sou eu, apenas, com tanto que me excede.
[ContraBaixo no peito]
Há uma sombra que se aproxima, cola as minhas costas ao seu peito. Um braço envolve-me o pescoço e uma mão desliza do peito ao ventre.
Sou eu o instrumento... Sinto a pele vibrar como se fosse corda suada.
Um suspiro no pescoço.
"Please teach me gently how to breathe"
As mãos enlaçam-me o cabelo e rodam-me sobre mim mesma. Tocam-se os narizes enquanto respirações ofegantes se cruzam ritmadas por peitos vibrantes... desliza a mão alheia, cintura, anca, coxa, joelho, puxa-me contra si...
Lábios que se tocam em recuos simulados... mordem-se, molham-se.
Um ritmo apressa-se em compasso de tambor.
Chão
Gelo
Arrepia e evapora a pele hirta, em ponto de rebuçado...
"Quero-te"
Não respondo, morre-me sempre a voz quando o corpo acorda.
Puxo o seu corpo para que se afunde em mim...
Suor
Suspiros
Gemidos
Febre que se escapa em cada poro do meu corpo
Ondulação entre cortada por beijos que constatam o inevitável
Aqui
Agora
Não somos nada além da vontade de quase morte, fogo que relaxa e contrai em desespero de êxtase...
"Quem és tu?"
...
Eu?
Cinza que escorre dos lábios em silêncios partilhados.
sábado, 8 de janeiro de 2011
Spoiled
Mergulho no chuveiro sorvendo tragos de água fervente que me entorpecem os lábios.
Inerte permaneço abraçada a mim mesma, só.
Passeio as mãos pela cara e ombros... Sinto-me uma corda acesa prestes a explodir debaixo de água.
[Compasso]
Estás no meu peito, na minha boca, nas minhas mãos, viajas em mim como chama, e eu deixo.
Estarei eu louca por sentir que bate certo?
Deito o cabelo molhado no chão aquecido pelo fogo... brinco com as pontas espremendo-lhes gotas que deslizam em arrepio na pele...
Olho as chamas que se debatem em vermelho e laranja, como dois corpos que unos em prazer exalam faíscas...
[faíscas, hum...]
Corpo fraqueja e estremece ao toque.
Cheiro
Boca
Voz
Serei culpada por me perder em nós?
[Ideia]
A questão dobra-se e aninha-se no olhar de esguelha que fala prendendo a voz, no sorriso travado que partilha nadas tão repletos...
Não quero promessas ilógicas, mas quero, quero que fiques enquanto quiseres. Que encostes a mim os teus silêncios... sem que seja necessário dar-lhes um nome.
[Are we spoiling it?]
Brinca a brisa pela rua arrastando com ela restos...
Eu? Eu deixo que a chuva me embale no silêncio de um corpo que aquece ao sabor do fogo com pequenos toques de lua.
[Silêncio]
Há uma nulidade que me esmaga o peito, como fogo que sofre ameaça de vento forte.
Talvez seja a inevitabilidade que me acende o rosto... mas a vontade de precipício chega a todos.
[Quero]
Toques, enlaces, desvarios, calor...
Quero fogo no ventre
Doçura no ouvido
Quero que me leves,
arranca-me a mim mesma
Voos dispersos...
Ficar em êxtase apenas mais uns segundos...
Ser eterna apenas numa imagem...
[Quero]
I think we are spoiled.
[te]