
Escorreste-me entre dedos, durante a chuva, em dó menor, num dia ímpar.
Eras subtil na barulheira que causavas. Eras negro entre luz e luz na eventual escuridão. Circunstancial em todo o caso, maioritário em caso algum.
Sorvi-te a conta gotas para que te esgotasses mais lentamente. Mas mesmo assim não te poupei o fim. Fui vampira em segredos de arrastão. E então? Não tiveste segredos tu também??
Para quê mentirmos em algo que grita por simplicidade. Ser simples é ser honesto. Apenas.
Rasgo-te em fechares de olhos. Apago-te. Sem escapatória possível. Não podes controlar a minha memória. O meu cérebro. O meu querer. Sim quero que te apagues. Não te apago eu, desapareces tu e as minhas memórias vão contigo ao sabor do pestanejar. Não pode ser diferente e indiferente simplesmente não foste.
Lembro-me da doçura do toque. Antes bem antes. Quando mal me olhavas nos olhos... falta de coragem, lembras? (Pestanejar) Lembro-me do cheiro da pele... impossível de reproduzir, não sei que cheiro é esse mas não há perfume que o camufle nem pestanejar que o apague. (suspiro) Lembro-me do gosto a amora silvestre... tinhas um gosto delicioso povoavas a minha boca e a minha língua como nunca ninguém o fizera antes. (sorriso/pestanejar) Lembro-me dos abraços aveludados, veludo vermelho, sempre quentes, recheados de sentimentos e chocolate. Como esquecer? (cruzar de braços)
Lembro-me de como me esperavas à porta, sempre a ocupar um degrau, pé irrequieto, dedos a balançar no cotovelo. Tenho saudades de quando esperavas por mim. Quando eu era a razão que te fazia esperar... sim tenho saudades mas essa é uma palavra que jamais se mata. (Pestanejo)
Daqui a um tempo finito mas indefinido o sol virá, em dia par. Com ele o pestanejar acabará. Terei que te fechar os olhos e ter-me-ás já escorrido entre os dedos, já sem chuva e possivelmente já em mi mas sem mim. Porquê? ...a isso sorrio apenas...