quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Comigo


Tirei do bolso a folha que havia um dia rasgado do teu caderno.

Desdobrei todos os quadradinhos onde te tinha colocado, um por um.

Não te vi nas palavras, nas linhas, nem entre elas. Não estavas.

Talvez tenhas voado com as asas que te colei na espinha. Talvez tenhas descoberto algo novo onde pousar os teus espaços.

Procurei um ponto de referência na ausência. Nada. Ninguém. Nenhum.

Sentei-me.
Horizonte sem cor.

Há uma brisa morna que passa por entre os cabelos que se colam nas costas desenhando curvas desmanchadas. Manchas de cor por entre o preto e branco que gravo na memória.

Espaços incertos. Indesejados. Contudo agradáveis.

Sem plano, sem espera. Fica à mercê de algo.

Pu-la sozinha. Por entre brechas de sons que não guarda no seu livro.

Porque sim, porque não, porque não sabe de facto... ou não sabe apenas o facto, um... nenhum.

Há dedos sem dono que brincam com desenhos alheios e tiram medidas incertas no vento.

Tempo de Nada. Ninguém.

Guardei-te assim em folha branca, que escolhi não dobrar, amarrotar apenas.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sentido.
Acho que te compreendo.

Uma caixa de chocolates para a sensível poeta que há em ti.

lampâda mervelha disse...

Páginas e páginas a fio
Sem ter rumo nem oriente
Incide a fraude em que me sinto
Na opulência de me sentir em nada
Que nada foi para além de não ser

Em nada
Por nada…
Nada!

Nada estou, nada fico
Que nada rendido, mas então…
Tão perto do fim, tão longe de começar
Sonho eu em final de noite
Logo hoje que não me sinto

De nada
Sem nada…
Nada!

É como filme quando termina a fita
Em branco nada, de tudo possível
E agora que nem querer nada desejo
Abraço o mundo e em nada fico
Porque amanhã, nada será como hoje

Nada
Nada…
Nada!


lampada|mervelha 2007

farfalla disse...

um nada significa tanto...

Gostei!

bacio em compasso de borboleta de asa azul... em nada... de nada... por nada... para nada.

. disse...

Que maravilha de texto! Fiquei emocionada, como fico sempre que leio o que traduz o que sinto, e o que penso. LINDO, LINDO, LINDO!!!

Beijos e pétalas.

Shaula disse...

Hoje olhei a folha branca que incessantemente aguarda um destino, mas ainda não tive coragem de a amarrotar... talvez outro dia... ou talvez descubra o que tenho de escrever nela...

bjinhos