
Não era ele quem falava.
Conta-me a tua história...
Não tem pózinhos mágicos, fadas ou guião... nasci sem querer. Sim, isso mesmo, sem querer, arrancaram-me ao silêncio e ao vazio que ainda hoje amo e respiro.
Aprendi que há uma coisa à qual chamam espelho... não tem fadas do lado de lá para opinar ou encaminhar, tem apenas um reflexo que muitas vezes não reconheço... um avatar apenas... Posso ficar horas a olhá-lo sem saber quem está do outro lado, sem entender quem está deste. Inventei-me nos dias sem horas nem segundos, descobri-me numa cor, num cheiro, num som ou palavra. Monto-me em pequenas peças que encaixam sem razão aparente, sou um puzzle construído com peças perdidas... como uma amnésia instalada a ferros na razão.
E qual o teu nome?
O que quiseres.
Chama-me Margarida na Primavera...
Ariana no Verão...
Carolina no Inverno...
Joana no Outono...
Liliana durante o dia,
ninguém todas as noites.
O nome não te define, não te cria, não te desenvolve, é apenas um carimbo que arrastas contigo e que serve, talvez, para que outros te arquivem na sua mente.
A tua idade?
Sou da idade das gotas de chuva que deixo pousarem na minha mão... duro uma estação... um dia festivo... uma brisa? Ninguém sabe ao certo a sua idade, é tudo não mais que matemática feita para quantificar o abstracto.
Seria esse o teu Prefácio?
Não.
Como seria o teu livro?
Um gigante molho de folhas em branco... com um "Não sei" a substituir "Fim"
O mote qual seria?
Alguém que eu fui num dia diferente deste rabiscou que "Sou pó e palavras, pó que nasce do nada mas tem de um tudo, palavras que difícilmente nascem mas depressa se esquecem." Gostei dela nesse dia...
Quem és tu?
Quem sabe?
... mas ele disse "...Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama..."