sexta-feira, 3 de agosto de 2007

tic tac

Abro os olhos a luz incomoda-me e por isso mesmo sou obrigada a fechá-los de novo. Sou alertada não por um som mas pela falta dele, procuro na cama o vestígio de uma presença, nada, está apenas gelada. Abro de novo os olhos lutando contra a luz, tento olhar em volta mas fico presa na sombra de uma estrela que dança na parede, fecho os olhos de novo porque não aguento mais. Um flash traz á memória um beijo violento, abro os olhos repentinamente, o que se passou? Não me lembro deste beijo e no entanto senti-o tão real… mais uma vez a sombra, oscilando esquerda direita como o tic tac de um relógio. Fecho os olhos e de novo uma visão, foram beijos, abraços, arranhões violentos que me rasgaram a razão. Dentes que ferravam carne fervilhante de prazer, lábios que se cerravam para não soltar os gemidos que se debatiam para sair, palavras que se dirigiam não ao ouvido mas aos poros que lhes reagiam estremecendo e contorcendo-se. Abri de novo os olhos, conseguia sentir… inalava aquele cheiro a prazer, pecado saboroso, sentia ainda nos meus lábios os daquela outra pessoa sem rosto, porque não me lembro? Ansiava por entender o que se passava. A luz continua a incomodar-me, mais uma vez os olhos fecham e aquela imagem surge, um olhar pousado em mim, tentava fugir-lhe mas ele insistia atracar em mim, soltava faíscas sempre que se cruzava com o meu, sinto ainda o desconforto de o ter sobre mim colado no meu corpo. Tento insistentemente que me abandone e por isso mesmo as minhas mãos pousam sobre os seus olhos, é agora a sua boca que me procura, fujo para que não me sinta. Atraca nos meus seios, ferra-os de tal forma que não consigo evitar o grito que se atropela subindo a espinha em direcção aos meus lábios, beijo-o para que sinta a ebulição que emana do meu corpo, afasta-me segurando a minha cabeça para que possa assim observar-me mais uma vez. O seu olhar é demasiado pesado para que o consiga suportar tento escapar mas estou de tal forma envolvida que raciocinar não é uma hipótese, estamos colados frente a frente, as minhas pernas entrelaçam-se na sua cintura e as minhas mãos perdem-se nas suas costas. Olha-me ainda, empurro o meu corpo para trás e encosto as minhas mãos nos seus joelhos para que não me alcance, mas ele não deixa, sinto o peso das suas mãos nos meus ombros puxando-me para ele, para aquele corpo sem rosto, não consigo vê-lo e por isso mesmo não suporto que veja a nudez da minha alma o desejo está tão eminente que não consigo parar de estremecer, sinto o seu arfar quente no meu pescoço e mordo os meus lábios para que não gritem de prazer, sinto o meu coração palpitar em sintonia com todo o meu corpo, quero agora olhá-lo mas estou tão longe que já nem sei comandar o meu cérebro. Respiro, limito-me a respirar já que tudo o resto me é agora alheio, solto um gemido furtivo e sinto-o sorrir, sei que sorri sem que precise olhá-lo, debruço-me sobro o seu peito e ferro os meus dentes nos seus ombros para que assim sinta tudo aquilo que já não consigo controlar, cravo as unhas nas costas daquele corpo sem rosto e sinto a sua língua nos meus seios desenhando círculos perdidos, seguro-lhe a cara e atraco na sua boca, mordo-lhe os lábios para que melhor me sinta estou quase a explodir, sinto as suas mãos percorrendo-me as costas com as pontas dos dedos estremeço e sinto agora que os meus olhos se querem abrir, ordenam a todo o meu corpo que execute essa ordem, sinto as pálpebras abrirem lentamente para que dêem espaço a que o prazer se revele também… abro os olhos e sinto ainda o sobressalto que consome o meu corpo mas não encontro nada apenas a mesma sombra daquela mesma estrela balançando, tic tac, tic tac…

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais que o dom da Palavra, tens o dom da Sensualidade.. e o teu texto transpira isso mesmo.

Espero que tudo o que transportaste para o texto, sejam vontades ... desejos ... loucuras ... cometidas ou por cometer, depois de marinadas num caldo de sedução.

Sabes? Vejo-te borboleta a voar alto... bem alto... aproveitando as brisas de verão, e sinto que vais longe.

Um Bj do "Jogo da Verdade