sábado, 2 de fevereiro de 2013

Exoresquece


“exorcizar

v. tr.
1. Pronunciar exorcismos para expulsar demónios ou espíritos do corpo de. =ESCONJURAR
2. Bradar como quem esconjura.”



Exorcizar como quem esquece. Pestanejar, processar e esquecer tudo o que se nos apresenta.

Pequenos exorcismos.
Choro.
Gritos.
Suspiros.
Orgasmos.

Caminham connosco nem sempre, mas muitas vezes, ao mesmo ritmo.

“Life doesn’t get easier, we just get stronger”

Crescemos em exorcismos paralelos. O leite materno, a chupeta, o colo, a resposta imediata ao choro, as rodas sobresselentes.

Nem sempre é fácil seguir em frente.
Acredito que nunca é fácil crescer. Exorcizar da memória a lembrança da primeira dor, a primeira é sempre a pior, a que rasga, a que, quase sempre, deixa a maior cicatriz.

Primeiro estalo, primeira queda, primeiro medo, primeira desilusão.

Exorcizar a dor de quem deixamos para trás para poder seguir em frente. Esquecer o nó que se cria no peito.
Exorcizar a memória de quando deixámos que retirassem as rodinhas que suportavam o pneu traseiro da bicicleta. Porque queríamos uma maior… Ou apenas porque faz parte do processo de crescer. Evoluir. Caminhar em frente, não retroceder.
Exorcizar quem desaparece do nosso dia a dia. As memórias que nos ficaram delas. Exorcizar para esquecer, exorcizarmos do corpo um pouco da dor de saber que não há corpo para abraçar, voz para ouvir. Exorcizar que mesmo quando o corpo está por vezes o resto já partiu. Exorcizar que erros são cometidos ao longo do caminho.

Exorcizar não será necessariamente esquecer, mas alivia a tensão do corpo, treme a alma e fá-la entender que tem que se reajustar, encontrar o seu espaço, o seu ritmo, mais uma vez.

Não. Exorcizar não é esquecer. É seguir em frente, tremer, chorar, e guardar o que ficou para continuar.

Não, a vida não fica mais fácil, mas a verdade é que nos tornamos bastante mais fortes no caminho.

Imagem de Dança Contemporânea retirada do Google.

Nenhum comentário: