quinta-feira, 16 de junho de 2011

Res non verba


Sozinha comigo, em mim, divago entre espaços vazios que pairam entre reticências.

Cada reticência é um conjunto de pontos finais que se coadunam esperando um resto.

A banda sonora não é minha, mas ecoa sob a minha voz, canto palavras que não escrevi mas sentidos que reconheço...

Caminho por entre apetites que me habitam e me consomem em nulidades de sabor...

Encho a banheira, espuma e bolhas saltitam por entre azulejos, quero água que me queime a voz, que me ferva o peito, que me consuma a mente. Calor que me ocupe e se propague pelos espaços vazios que pairam em mim...
Trago comigo o copo com néctar a veludo, que deixo a um canto enquanto mergulho na pequena nuvem aquecida...
Ouço frases soltas por entre refrões e nos entretantos dos sorrisos mudos deixo que as pontas dos dedos sintam o toque frio das torneiras [Arrepios]

Momentos egoístas que gasto comigo em silêncio.

"Come closer, come and stay with me now, help me to reconcile, come and stay a while(...) And I will find a house, because we love till the end..."


Mostro-te restos que não vês porque escolhes não ouvi-los. Tenho pesadelos no ouvido direito e sonhos que me escorregam pela nuca. Exorcismos que se cruzam em pequenos pestanejares que se espalham pela face.

Passeio os dedos pingados pela base do copo semi cheio com pequenas marcas que escorregam pelo interior... O vinho engrossa a paixão e brinda a saudade.

Escrevo pensamentos, sentimentos, verdades e mentiras em tiras de papiro conceptual, e rasgo-as logo de seguida... amasso e desarrumo tudo para que possa depois organizá-los devidamente... Brinco com cronologias e faço analogias de sentidos. Estico a razão e encolho o coração.

Sou complexa nesta simplicidade que me conheço... Vivo dias que são anos e horas que se mirram em segundos.

Apetece-me esticar até ti, como se estivesses na ponta oposta a mim, e sussurrar-te ao ouvido as pequenas doses de mim que se enrolam na tua memória. O cheiro, o sorriso, o sabor... E perder-me no silêncio da resposta.
Sou tão pequena neste momento que caber-te-ia facilmente na palma da mão... a mesma com que me tocas, a mesma com que te tocas, a mesma onde cravei um dia sonhos e desejos... a mesma que fechaste sem deixar que algo dela escorregasse.

Ergo o copo num último travo e deixo que a última gota me escorregue pelos lábios... um brinde.

Quando esmifras tudo o que vês, és feliz com o que conheces?

Quando drenas todo o teu sangue, és feliz com o que fica?

Quando esvais todo o desejo, és feliz com o que te resta?

Quando apagas toda a indecisão, és feliz com o que escolhes?

Sou feliz no vago espaço desta reticência abandonada ao silêncio do calor que se banha de veludo entre os espaços vazios, que hoje escolhi para mim, porque sim...

imagem retirada do google

3 comentários:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=QnVO_9UWxso&feature=player_embedded

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=0g2hUjHlsvI&feature=player_embedded

farfalla disse...

engraçado, lembro-me de ouvir isto qd era Pequena. Obrigado Jace