quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Do Vir
Sorrimos num espaço perdido
de mãos dadas no vazio
Soltamos palavras que não ouvimos porque o vento roubou...
ou talvez as tenhamos apenas esquecido
Será assim o tempo do nada
do amargo
do compulsivo
Prendo-me no teu pescoço
é o teu cheiro que me guia...
Engulo soluços, sorrisos, restos de mim
e vomito palavras que não respiram
que não voam
que se guardam por entre espaços vagos
Há caminhos
Há
Há destinos
Há
Há nadas.
Dou passos por entre quadrados sujos e gastos
e vejo pequenos desenhos que rastejam apagados
deixamos uma história para trás, sempre que seguimos em frente
e não consigo não ver a criança que corre atrás de quem dela se esquece...
Tornamo-nos algo
transformamos muito
guardamos nadas no espaço de uma vírgula
Suspiro.
Não há um fim.
Há um grito que se prende por entre o espaço que deixas vazio,abandonado.
[barulho]
repete comigo esse som tão estranho
[barulho]
estranho sempre as palavras repetidas, soam a nada
[barulho]
embrulho os braços no tronco inerte e gelado que esqueço em voos distantes...
[barulho]
sentes o eco que se estende no silêncio de um espaço que não é?
[barulho]
esqueci-me do que te ia dizer
talvez não fosse nada
talvez não tenha voz
talvez nem exista
[barulho]
deixo as velas arderem até ao fim
ou sopro para que se esqueçam prematuramente?
[barulho]
tinha uma capa azul... mas não o li
[barulho]
às vezes esqueço-me que não andamos, dançamos
[barulho]
às vezes deixo-te para trás
[barulho]
às vezes esqueço-me de seguir-te
[barulho]
afinal não é a elas que estranho... é a mim.
imagem, quadro de Maria Helena Vieira da Silva
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Um comentário:
E eis que dou de frente com tamanha maravilha. Isto é pura arte. Fiquei fã. A tua escrita, é sem dúvida poderosa.
Beijinho. (: *
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