segunda-feira, 29 de maio de 2017
Amor
Olha amor tudo acaba, hoje amanhã ou daqui a muitos anos depende de nós. Não tenho saudades de ti, tenho saudades de coisas tuas, viste-as?
Olha amor continuo a ver-te quando dormes, nesses momentos és sempre quem sempre foste, não mudas, estás tu. Tu já não me olhas no sono, não me velas, não me acompanhas, antes até carícias tinha a dormir...
Olha amor ainda aqui estou, a empurrar-me para a frente mesmo quando sinto a vontade vacilar. Um dia ficarei para trás e mudarei de direção. Não fiques no meu caminho, não quando foste tu que me afastas-te do centro do teu.
Olha amor tudo acaba, até o que não começou.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Night Air
segunda-feira, 4 de março de 2013
Meio
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Para o meu primeiro Amor!
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Exoresquece
Imagem de Dança Contemporânea retirada do Google.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Agro Dolce
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Inverno
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Memória
Ás vezes o papel só serve para fazer desenhos. Desenhos e não palavras, palavras em desenhos. Um blah blah blah de imagens soltas, dispersas e (aparentemente) sem sentido.
Ainda dou pestanejares ao esquecimento. Ainda tenho slides de fotografias nos meus olhos. Ainda me lembro de frases soltas, gestos sem sentido, cheiros que me realçam a memória.
A manhã que se desprende em abraços de preguiça ou aqueles dias que acabam sem querermos que outros comecem.
Ainda lembro o vestido das borboletas que sujei dançando na lama, ainda me lembro quando dançámos sobre a relva ensopada, sem que as cronologias sejam respeitadas. Ainda me lembro dos rodopios, dos sorrisos, lembras?
Ainda me lembro do que escrevi a primeira vez que te vi, a primeira vez que te toquei, a primeira vez que te beijei...
Ainda me lembro da janela do quarto, o meu quarto, das árvores do cinzento, ainda me lembro do cheiro pesado a cigarros nas paredes, nas folhas amarelas dos meus livros amontoados, os meus livros...
Ainda me lembro do quanto sorri e do quanto chorei naquele quarto, entre essas paredes, cheias de postais e borboletas, tudo emoldurado pela janela.
Lembro-me de quem fui, de quem me afastei, de quem me criei, de quem me esqueci, lembro todas, sou todas. Fui todas.
O horizonte acinzenta-se na sua infinitude. Uma criança brinca com o triciclo novo. Outra criança de roupas rasgadas brinca com o seu triciclo sem rodas. Outros jogam cartas, outros vendem cajú, outros olham e outros nada...
Outros fazem um ckeck-in, outros fazem um check-out. Outros nascem, outros morrem.
Tudo acontece e se sucede. Como eu. Como nós. Como todos.
Deixar-me ir na estranheza de lembrar. Lembrar e saber. Lembrar e duvidar. Lembrar e querer. Lembrar e melhorar. Lembrar e seguir. Lembrar e matar.
Como um caminho que se percorre de olhos vedados, a rendas.
A minha avó e as suas agulhas, a minha avó e o seu crochet, a minha avó e as suas histórias de terror, a minha avó e o seu forno de lenha, a minha avó e os seus gritos.
Memórias, desenhos, palavras, tinta dispersa em papel, como na memória.
Doença, alegria, carência.
Vozes que escolho como companhia. Sorrisos que escolho como companhia. Chás que escolho como companhia. Coisas, sempre coisas. As coisas que importam ou coisas sem importância.
O silêncio em todo o lado menos dentro de mim. A saudade dobrada nas pestanas que se tocam. Eu e tu. Eu tu e a caneta. Eu, tu, a caneta e a tinta. Juntos em vazios que se desprendem como fogo de artifício nos olhos, nos lábios, nos dedos.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
O Saco de Morangos
Ela passou com um saco cheio de morangos.
Da cadeira que escolhi vi a porta de madeira com grades vermelhas… vermelho que contrasta com o amarelo das paredes. Eram duas as janelas abertas. De uma espreitei os cotovelos de um personagem que existe apenas no fumo que expele dos lábios gastos, de outra vejo uma senhora, já de uma certa idade (não que a expressão queira dizer algo, ou seja apropriada, dizer que alguém é de uma certa idade não lhe dá um carimbo etário preciso, uma certa idade poderiam ser 15 anos, embora aí não lhe chamasse senhora, poderia ter 30, ou 40 mas a verdade é que quando atribuímos a alguém o carimbo de “uma certa idade” as quantidades são sempre elevadas, digamos que nunca abaixo dos 70), põe no seu cabelo branco uma flor verde. A sua imagem remete-me para uma outra senhora que vi uma tarde em que caminhei pelo parque Eduardo VII. Lembro-me que estávamos no fim do Inverno, num daqueles dias que antecedem a chegada da Primavera mas que têm já sabor a Primavera. Caminhei, com ela, ela que é a amiga de sempre, a que vê quando ninguém sequer suspeita, a que ouve quando eu não digo, as árvores deixavam passar os raios de sol por entre os ramos e entre silêncios, monólogos, passadas lentas. Caminhámos lado a lado, ou uma um pouco mais à frente que a outra, quando demos por nós estávamos perto daquele parque a que chamam Amália. Sentámo-nos, pedimos algo que não me lembro o que foi, e observámos algumas pessoas, como sempre. Acto involuntário. Foi aí que a vi. Sei porque o escrevi.
Ela tinha um casaco vermelho.
Ela tinha um casaco vermelho velho mas que não é velho, é vintage. Acompanhou-o do seu cabelo, meio ruivo meio amarelo, atabalhoadamente apanhado numa banana presa por um gancho amarelo e vermelho, como o cabelo. Escolheu uns brincos pérola e redesenhou sobre as rugas um risco preto que realça os seus olhos azuis que parecem verdes, vivos ainda. Dou-lhe setenta anos, não deve estar muito longe disso, o seu rosto não mentirá muito sobre a sua idade, mas os seus olhos, o seu olhar é o de alguém que tem dentro de si o fervor de uma vida ainda, uma vida que ainda arde em tons de azul e verde. Da bolsa cor de caramelo puxa um pacote de cigarros, tira um e coloca-lhe na ponta do filtro algo que sei o que é mas que não sei o nome correcto, como as mulheres usavam nos anos 20. Não sei o seu nome mas qualquer nome que não seja místico não será o seu com toda a certeza.
Foi assim que terminou o texto. Esqueci-o por entre as pequenas folhas de um pequeno caderno que naquele tempo sempre apanhava boleia na minha mala. Mas lembro-me da imagem dela, muitas vezes. Pela força, pelo mistério, pelo carimbo que me deixou naquele dia. Não a imagino avó de alguém, para mim uma avó veste aventais ou batas de padrões floridos e demasiado garridos, usa botas de borracha ou umas pantufas de rede, tem os cabelos curtos porque assim dá menos trabalho e todo ele é cinzento. Essas são as minhas avós, as avós que o meu imaginário reproduz quando busco a imagem que associo a essa palavra. Ela não era assim. Ela parece a minha tia-avó, irmã da minha avó paterna, aquela que usava saltos altos e unhas vermelhas, se maquiava, e tinha todos aqueles vestidos e sapatos fantásticos dos anos setenta. Essa minha tia não tinha netos, era tia e não avó e não a consigo imaginar como avó. Mas o carimbo que ela, com o casaco vermelho, me deixou foi diferente, quis ser como ela e ser avó, deslumbrar os meus netos e deixá-los vir ter comigo pedindo histórias, hei-de gastá-las todas e eles hão-de pedi-las de novo, apenas porque gostam de mim.
Ela passou pela rua com um saco cheio de morangos vermelhos.
Pergunto-me se se conhecem… as duas janelas, aquelas em que pousavam o senhor do fumo e a senhora da flor verde, talvez não se conheçam já que que sobrepostas nunca se encontram. Na praça passam personagens que me despertam por entre tantos outros que se misturam sem sobressair. Nem sempre o que sobressai é positivo, mas a verdade é que, cada um pela sua razão, não são iguais. Guardo-os um pouco enquanto percebo que a Primavera, este ano, não trouxe andorinhas. Não vejo os ninhos, não as vejo nem ouço. Talvez tenham migrado para o Verão.
E tinha um saco cheio de morangos.
Irritam-me os putos e os skates, não por serem putos ou por terem skates mas por conjugarem ambos com a triste atitude de que tudo é deles. Hoje não me apetece ouvir o baque da madeira contra o chão. Também me irritam os pombos que correm pelas migalhas que se espalham com o vento pela calçada. Há passos, caminhos, ritmos. Sobem escadas, descem escadas, riem, correm, mais coradas, mais pálidas, mais calmas, mais agitadas, mais atentas, mais alheias. Pessoas que passam aqui. Será que alguma me viu? Algumas pessoas sentam-se e pedem copos, ele sentou-se e pediu uma garrafa, vinho branco. Durante algum tempo pensei que esperasse alguém mas a garrafa ficou vazia e as cadeiras que estavam ao seu lado também. Perguntei-me durante algum tempo se a pequena tristeza na sua íris seria por alguém não ter chegado ou porque simplesmente ninguém se sentou.
Sentei-me sozinha na esplanada porque decidi ir a pé para casa. Desci a avenida e apeteceu-me parar na praça e pedir uma cerveja, que nem sou grande apreciadora, mas apeteceu-me e por vezes há que dar ouvido às vontades. Sentei-me sozinha no meio da praça, com o sol a queimar-me os ombros e um sorriso a rasgar-me os lábios e foi aí que ela passou pela rua. O vestido era preto, o cabelo era preto, os olhos estavam pintados de preto, as botas eram pretas, as pulseiras e os fios eram aparentemente pesados e pretos, apenas os lábios eram vermelhos e esse vermelho brincava com o saco, cheio de morangos vermelhos, que ela trazia preso na palma da mão esquerda.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
sonsondergang
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Carpe Omnium
Nada está igual mas nem tudo mudou.
As ruas mantêm-se com a sua terra vermelha, barrenta. As
vozes que não entendo, ou entendo pouco, as cores nas roupas, nas pessoas…
Nada está igual mas nem tudo mudou.
Para cada acção há uma reacção.
Eu mudei nas roupas que escolho, quase todas, nos sapatos
que uso, alguns, nos adereços que escolho, quase nada, na maneira como olho as
coisas, tudo!
Há uma certa beleza idiossincrática que me escapou antes,
uma beleza simplista que se resume em pequenas coisas, tão pequenas quanto o
facto de caminhar (quase) no centro da cidade e ouvir pássaros como se
estivesse no campo. Não no campo, como se estivesse na minha aldeia, a minha pequena
aldeia atrás do sol, com tantos que amo. A verdadeira beleza é simplista, tão
simples quanto o acto de escrever estas palavras num caderno de folhas já
amarelas forradas a capa de capulana, numa esplanada (quase) no centro da
cidade, onde consigo ver os pássaros cantar alegremente e avistar o mar escuro
emoldurado pela terra castanha acompanhado por uma fatia de tarte de maracujá…
Doce e azedo. O excesso de doce azeda-me a boca, há uma
linha ténue entre o doce em falta e o doce em excesso que leva o melhor a ficar
mau. Na arte da doçaria como na vida doce em excesso azeda, como ilusões que se
nos apresentam salpicadas a açúcar e pepitas de chocolate… ilusão de muita
doçura. Mas passíveis de azedume. Na arte da doçaria como na vida… doce q.b. por
favor.
São cinco da tarde e atrevo-me a afirmar que metade das
pessoas que estão comigo nesta esplanada já terminaram o seu dia de trabalho e
aqui vieram matar um espaço de tempo que habita na sua existência. Como eu. É
uma boa forma de o fazer, não?
Nada está igual mas nem tudo mudou.
Quase todas as ruas têm o mesmo nome, a mesma direcção mas
aparentemente mais semáforos. Precisaremos de mais “luzes” que nos digam para
parar, seguir, ou avançar com cuidado? Quase todas as ruas têm o mesmo nome mas
o simples acto de encontrar chás que me agradem mantém-se difícil. Há um amor
pelo Rooibos que me parece um tanto ou quanto exacerbado… mas quem sou eu…
Suponho que faça também parte da beleza.
O caminho é o mesmo, a árvore é a mesma, a mesa que escolho
é a mesma. A casa é a mesma e praticamente tudo está como deixei, as mesmas
fotos, nas mesmas molduras, nos mesmos locais que escolhi, estampas que me
recordam pessoas especiais. Os seguranças do prédio, os mesmos, iguais nas
pequenas diferenças que se lhes
acrescentaram no espaço de um ano, mais ou menos uns gramas, mais umas rugas e
num caso muito particular uns óculos de massa pretos, vintage, Ray Ban, quando
o vi depois deste ano disse-lhe “Parece o Ray Charles”, sorriu com o mesmo
sorriso e gratidão de sempre. E contínuo sem saber o seu nome… a Júlia que
sorriu como nunca a tinha visto sorrir e que se mantém igual, este ano não
passou por ela. A mercearia da esquina, com os mesmos empregados, os mesmos
patrões mas com mais estantes. Os pavões que se passeiam pela rua continuam sem
o leque de penas mas mantêm o passo galante rua acima, como se fossem suas…
talvez sejam. O Vila Itália na
esquina, que agora se chama Ciao! Mas
que se mantêm italiano. A pequena banca da rua, com a menina que vendia a
papaia que eu gostava, fechou, ficou sem dinheiro. Agora tem outra menina mas
já não tem papaia.
Nada está igual mas nem tudo mudou.
Nesta esplanada que tantas vezes visitei e que hoje, depois
de um ano, visito de novo continuam a olhar curiosamente para esta pessoa que
escreve nas folhas amarelas de capa forrada a capulana. Alguns olhares parecem
falar, “será um diário?”, “será maluquinha?”, “será uma carta?”, “serão notas?”,
talvez não pensem nada, muitos nem me notam e essa é sempre a melhor parte.
As crianças ainda brincam com as empregadas enquanto as mães
bebem os seus chás com as suas amigas, o sol ainda me queima na pele e ainda
fico vermelho camarão antes de bronzear.
Nem tudo mudou e isso é bom.
Mas nada está igual no lado de dentro dos olhos que me acompanham.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Inanis
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Repetição
A noite fria distendeu-se juntamente com os lençóis até ao fundo da cama, com o sol o calor disse bom dia.
Sinto o meu suor húmido na almofada e o teu espaço frio na cama.
Sozinha. Acordei com o meu sorriso abandonado.
Não tenho voz. Embrulhou-se algures nos vincos dos lençóis...
Tenho fome de carinho. Como uma sandes de camadas. Uma de abraços, outra de beijos, outra de vozes, outra de palavras, outra de nadas. Os nadas vão sendo nas entrelinhas os que mais sabor têm.
Levanto-me, embrulho-me em qualquer coisa que encontro pelo caminho... Há quem acorde de olhos adormecidos, eu acordo com os pés adormecidos. Arrasto-os comigo pelo corredor.
Casa vazia.
Estendo o meu tronco sobre o tampo semi espelhado da mesa. Vejo a minha respiração bater na superfície e evaporar.
Vazio.
Os vazios passeiam por entre espaços preenchidos em nós.
Como?
É como ter um frasco com pedras até ao topo, olhamos e dizemos que está cheio, mas se lhe deitarmos areia ainda há espaços por onde deslizar e se olharmos diremos que está cheio, mas podemos sempre verter água.... e ela irá deslizar por entre as pedras e ensopar a areia. Há sempre um espaço vazio, mesmo quando tudo nos parece cheio...
Não sei onde começo e acabo, sou quase como o lençol que se embrulha durante a noite. Embrulho-me pelo caminho, nos meus pensamentos, no que vejo, no que sinto... e no todo que se preenche permanece este vazio, miúdo dia sim agudo dia não.
Vou até à casa de banho, molho o rosto, como que na esperança de que o toque da água fresca e pura na pele me limpe o que suja por dentro. Os medos, as dúvidas, as desilusões, as reticências que vão ficando no longo livro que escrevemos. Não rasgaria, ou tão pouco omitiria folhas escritas até agora, mas algumas delas foram escritas a sangue... e mesmo quando já muitas páginas se lhes sobrepuseram, por vezes, esse sangue pinga ou borra, não desaparece, e nem mesmo essas apagaria.
Não esqueço o bom ou mau, mas confesso que lembro sempre o mau com mais força, o vermelho é mais vivo, salta das gavetas.
esqueço tudo o que não estimulam em mim. Seja em dor ou amor.
A falta de estímulo esvazia em mim a água que no frasco ensopa a areia.
Sou demasiado poética nas histórias que desenho sobre a minha cabeça, demasiado vaga nos saberes que escorregam dos meus lábios, demasiado severa no julgamento que lanço com o meu olhar, demasiado viva no corpo que entrego entre os lençóis.
Caberia num átomo, mas não me chega o mar.
Mas nada é repetido... ou igual... há sempre uma pequena diferença no acto de repetição. Ninguém percorre o mesmo caminho, ainda que o faça lado a lado.
"O tempo humano não anda em círculos, mas avança em linha recta. Por isso o homem não pode ser feliz: a felicidade é desejo de repetição."
Tenho saudades de acordar e ter já os teus olhos pousados em mim, dos corpos colados, dos lábios mordidos, das mãos entrelaçadas. Mas mais que saudades tenho sempre saudades de saber que ela existe do lado de lá do espelho. Uso-a como uma flor viva em cor e cheiro que se colhe para enfeitar o cabelo.
Acendo um cigarro. Mais um.
Companhia de tantas horas em vazio. Vazio em repleto. Esvai-se. Fumar é quase como escrever, uma onda de fumo que engolimos e nos percorre o corpo saindo porque temos que respirar... Porque estamos vivos e para estar vivos precisamos respirar. É como o último travo que antecipa um fim insatisfatório. Apetece-me sempre outro cigarro imediatamente após o acto de raspar a cinza no fundo do cinzeiro, mas como em tudo na vida às vezes cansa a insatisfação e a repetição nem sempre traz consigo a perfeição. Nada se repete em igualdade, são apenas reticências de corpo diferente. desigual. vazio...
Imagem retirada do Google
Excerto do livro Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera