quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nada


O não dito.
O nada.
Tem sempre mais valor.
O não dito apenas se sente.
Dói nas entranhas de um sentimento,
um qualquer, pode até ser nenhum,
E arrasta-se no silêncio do nada.
Não dito.
Vale mais que mil palavras.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Escorre



Escorre, como a água pela pedra.
Como a chuva pela face.
Escorre, como o sol entre os ramos.
Como a luz na pele.
Escorre como vento entre as ervas.
Como a brisa pelo corpo.
Escorre como o som do sorriso.
Como a fome do olhar.
Escorre como a cor incolor.
Escorre sem som mas com vontade.
Escorre por mim. Em mim. Comigo.
Escorre e fica.
Escorre como as palavras.
Escorres?

sábado, 12 de janeiro de 2008

Encosta-te a mim

Encosta-te a mim
por momentos.
Sem medo.
Sem antes.
Sem perdas
Sem ganhos
Sem nada.
Encosta-te.
Pelo menos uma vez
Encosta-te ao meu peito quente.
Sim, ele sente.
Encosta.
Pousa as noites mal dormidas
As horas roubadas
Os sonhos assombrados
Pousa.
Encosta-te.
Nos dias em que não estou
Nos momentos em que não vou.
Nos espaços em que não sou.
Encosta-te a mim...
Assim...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Desenha-me um sonho


*Desenha-me um sonho.
-Não sei.
*Sabes sim!
- Não.
*Não sejas um velho rabugento.
-Não sejas uma criança mimada!
*Sempre que peço não o fazes. Depois quando viro as costas apressas-te a pegar-me na mão e a mimar-me.
-Como queres o sonho?
*Desenha tu, para mim. Um sonho, um lugar para mim.
-Fecha os olhos. Quatro paredes. Paredes feitas de chuva que cai deliciosamente. Uma janela com um pôr de sol, laranja e vermelho, que quase foge. Tecto e chão de nuvens, bem brancas, gordas e fofas! Num dos cantos a lua, bem brilhante e redonda. Deitas-te nela, com o teu pijama de palavras brancas e as duas tranças que te caem pelos ombros. Abraças a almofada de música e cobres-te com a manta feita de estrelas. Sorris. Fechas os olhos. A janela de pôr de sol envia-te uma brisa em tom de despedida. E ele começa a vir...
*O sonho...
-Sim.
*Quando queres nem és um velho difícil de aturar.
-Quando queres és uma criança que dá prazer mimar.
*ihihihihih
- Vive o sonho. Boa noite Ariane...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Caixa de música sem som


Guarda
sons mudos
ouvidos surdos
faíscas de chuva
gotas de sol
cheiros escorridos
gostos cuspidos
toques sem sentidos
ventos tempestuosos
sopros sugados
recados sem mensagem
esquinas sem saída
vidas sem coração
apertos sem mão
borboletas e metamorfoses
que cheiro com um pestanejar...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Caminho...


Colhe as frutas das árvores que encontra pelo caminho
Pêra, maçã, laranja, limão...
Colhe e coloca no cesto que traz na mão.
Saltita pelo caminho... Canta alegre balançando o cestinho.
Vai. Sem medos. Não há sequer lobo mau que a assuste.
Pensa. Tropeça.
Nunca pensara antes...
Porquê este caminho? Como? Para onde?
Fizeram-no para ela... e porquê?
Porquê e para quê ela?
Onde, como e quando a escolheram?
Atalhos... existem?
Porquê aqueles frutos?
Porque não morango? Uma manga? Um ananás?
Nem sequer gosta de maçãs!
E se o lobo mau vier agora? "Tenho medo"... Sente agora...
Não sabe para onde... como... nem porquê...